Folgas nas tabelas de retenção costumam ser festejadas, mas a factura chega na declaração anual.
Especialistas alertam que o alívio aplicado em Agosto e Setembro vai reduzir reembolsos ou gerar imposto a pagar dentro de um ano.
O Governo justifica a medida como forma de aproximar “o imposto retido” ao “imposto devido”; na prática, o contribuinte terá de planear melhor o orçamento. Ao longo deste artigo encontrará estratégias para evitar surpresas, baseadas em dados oficiais e simulações divulgadas pela PwC.
Retenção mais leve, imposto final maior
As novas tabelas cortam descontos nos salários durante dois meses, aumentando o líquido recebido. Contudo, esse dinheiro ficará em falta quando o acerto de 2026 calcular o IRS real relativo a 2025.
A PwC estima que a maioria dos perfis passe de reembolso a cobrança adicional, invertendo a lógica habitual. Guardá-lo agora é, portanto, essencial para não ser apanhado desprevenido depois.
Por que motivo o corte surge no Verão
Entre Janeiro e Julho, as retenções seguiram taxas antigas; o Executivo baixou-as agora para compensar esse excesso. A solução adoptou valores ainda menores que o necessário, segundo fiscalistas ouvidos pelo Jornal de Notícias.
Em Outubro entram em vigor novas tabelas menos agressivas, mas já acima das de Agosto e Setembro. O sobe-e-desce cria meses de “respirar melhor” seguidos de um regresso à normalidade tributária.
Simulações mostram quebra nos reembolsos
Cenário de trabalhador solteiro que aufere 1 500 € brutos ilustra o problema: reterá 2 228 €, mas deve 2 354 €, pagando 126 € no acerto.
A diferença supera a verificada em 2024, prova de que o efeito se agrava.
Cases acima de 3 000 € brutos praticamente deixam de receber reembolso e passam a entregar IRS adicional.
Quanto maior o vencimento, maior a probabilidade de haver montantes a regularizar.
Quem corre maior risco
Empregados com rendimentos médios-altos e poucos dependentes sentem impacto mais forte, por terem menos deduções para compensar.
Casais com dois rendimentos elevados também podem ver o saldo virar para negativo.
Já salários até 950 € mantêm reembolso ou pagam valor residual, graças às isenções reforçadas.
Mesmo assim, convém verificar simulação no Portal das Finanças para confirmar posição individual.
Estratégias de prevenção financeira
A recomendação dos especialistas é guardar a diferença recebida nestes dois meses numa conta-poupança de liquidez imediata.
Quem preferir investir pode optar por certificados do Tesouro a curto prazo, garantindo capital disponível em 2026.
Outra alternativa é aumentar a taxa de retenção voluntária junto da entidade patronal, equilibrando descontos.
A Autoridade Tributária permite esse ajuste mediante simples requerimento interno.

Mudanças previstas a partir de Outubro
Com o fim do “desconto extra”, as tabelas sobem ligeiramente, mas continuam abaixo das de Janeiro-Julho.
Esse reequilíbrio trava a sangria nos cofres do Estado e suaviza o acerto final.
Ainda assim, o total retido em 2025 tende a ficar aquém do imposto anual, sustentando a previsão de pagamentos adicionais.
Monitorizar recibos de vencimento até Dezembro ajuda a estimar eventual dívida.
Histórico recente confirma tendência
Em 2024, redução semelhante nas retenções de Setembro e Outubro encolheu reembolsos recebidos este ano.
Muitos contribuintes esqueceram o ganho temporário e ficaram surpreendidos com devoluções menores.
A bastonária da Ordem dos Contabilistas recorda que fenómeno pode repetir-se, talvez de forma mais intensa.
Guardar parte do salário “extra” torna-se, portanto, uma lição aprendida.
Ajustar retenção e criar reserva
Contacte o departamento de recursos humanos e peça aplicação de taxa superior se prefere evitar cobranças futuras.
O procedimento não exige autorização da AT e pode ser revertido quando desejar.
Paralelamente, destine o montante “poupado” a uma reserva de emergência, protegendo-se contra imprevistos fiscais.
Essa disciplina transforma a descida transitória numa oportunidade de reforçar finanças pessoais.
Conclusão
A redução do IRS na fonte traz alívio imediato, mas não representa poupança automática.
Planeamento cuidadoso e ajustamentos pontuais evitam surpresas em 2026, mantendo a saúde do orçamento familiar.